terça-feira, 26 de julho de 2011

Cristianismo e Platonismo

"Cristianismo é o platonismo do povo" Nietszche


A morte na vida não é doutrina nova e nem é encarada da mesma forma. Para provar isso veremos como ela se dá em Platão, no Cristianismo e em Homero o que é suficiente para tirar o endeusamento dos pré-socráticos dos Nietszchianos e demonstrar que é uma doutrina "que em todas as parte, por todos e sempre foi conhecida".

Platão - Dada uma afecção qualquer como a morte pode-se perguntar qual sua causa e essa pode ser de dois modos por espécie e gênero ou concomitancia e gênero concomitante. Assim o homem morre porque é homem e por outro lado porque há uma ausência de alma. Portanto vida e morte podem ser medida numa escala cuja a unidade é a presença da alma no corpo e, por serem vida e morte parte da mesma escala eles não existem por si e por isso a busca da unidade da alma.

Cristianismo - Aqui a via é outra, pois poderia se pensar na individualização e que a perfeição de cada indivíduo está em si mesmo mas, tendo Jesus adquirido a perfeição não existe algo como sujeito-medida mas Jesus sendo a medida da perfeição e por isso se diz "que não mais viva mas que Cristo viva em mim". Ademais a supressão do Eu é causa do nome Cristianismo(imitadores de Cristo)

Homero - O termo que na era clássica grega significa corpo em Homero significa cadáver, e o que significa alma é em Homero sombra. Assim a divisão corpo-alma em Homero NÃO existe! o homem é designado como uma espécie de superfície que é inflada por seres infra-humanos e supra-humanos sendo a religião o cultivo da parte que em você te transcende.

Em TODOS os casos vida e morte são altamente relativizados e há a mortificação do eu pelo cultivo das coisas superiores então o Cristianismo não é um platonismo para o povo nem o platonismo um cristianismo de sábios ambos os casos são como espelhos que refletem a mesma realidade, a saber, aquilo "que em todas as parte, por todos e sempre foi conhecida". Outro exemplo é a trindade egípcia, platonico-aristotélica e cristã mas por hoje é só.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Isso NÃO é "história de pescador"

Dia 13 de Julho desse ano estava navegando rumo ao porto de Ubu-ES quando cedinho às 0640 da manhã alguém chama no rádio pedindo socorro. Era o barquinho de pesca "Bucaneiros" que tinha ficado sem motor e já estava há um dia à deriva querendo ajuda para ir para terra firme.

Dei meia volta e fui socorrer meus amigos de menor porte. Chamei o comandante e toda tripulação se solidarizou com o caso dos bravos homens do mar. Uma vez salvos eles nos deram um dourado(foto) e 4 atuns.



o ato heróico.




O cozinheiro do navio com o troféu antes de ir para a panela.




eu.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Notas ao livro Instabilidade Perpétua do Juliano Pessanha

Li esse livro a pedido de um amigo que me dizia que era um autor importante mas que ninguém o comentava. Então, para se aproximar de meu colega que há tempo não via e para, talvez, descobrir de fato um autor de valor.

Mas não foi bem assim. Achei o autor bastante deficiente e tentei explicar ao meu amigo não tendo-o convencido mas também não recebendo uma contestação. Mas para mim também foi uma espécie de rito iniciático. Consegui de fato aplicar os métodos de interpretação em um autor que ninguém de meu círculo filosófico conhece e que não tem a mesma linguagem que a minha.

Não se trata de rotular o autor com rótulos alheios mas, entender a "gramática profunda" de seu pensamento, isto é, traduzir a linguagem do autor para a minha e "ver como os olhos dele o que ele viu". E essa será a tônica dessa interpretação. Tecerei comentários apenas até o capítulo 2 onde se dá a parte mais pessoal do livro e com a qual tive mais trabalho. O resto do livro fala sobre a relação do autor com Kafka, Nietzsche e Heidegger que servem de campo de provas para a interpretação dos dois primeiros capítulos(a parte sobre Nieszche se encontra nesse blog sob o título Nietszche e Platão).

Pode-se argumentar ad hominem dizendo que minha linguagem e pensamento foram de certo modo moldados pelo professor Olavo de Carvalho, mas na verdade deve-se dizer o contrário, pois, se os assimilei eles agora são meus. Os que argumentam dessa forma decerto padecem do vício da busca da originalidade cujas nefastas consequencias, veremos, pesam contra o sr. Pessanha.

i- Uma pista nas idéias

O primeiro parágrafo do primeiro capítulo é interessantíssimo e talvez um resumo do livro todo. Os rodeios que ele faz para explicar o que é Idéia, que é um conceito de 2400 anos, e ainda assim ele descreve idéia de modo metafórico então pegarei duas das descrições que ele usa e traduzirei para português claro. Idéias como:

- cadáver de experiência - a idéia é algo de totalmente separado. A idéia de casa não traz nenhuma imagem a mente pois pode ser uma caverna, uma mansão, casinha de cachorro e a sua casa participando de todas e não sendo nenhuma.

-ele fala que sai de um processo, da história do foguete, fora da instabilidade perfeita e (a de melhor gosto) algo testemunhado - em suma é o princípio de estabilidade e cognoscibilidade das coisas que participam do devir.

Então, para quê tanta descrição poética para um conceito tão batido? ele mesmo diz que "desde que se conceba idéia como", mas esse é o modo clássico e normal de se concebê-la. Observações desnecessárias. E o pior, idéia é um conceito metafísico que segundo a orelha do livro não existe. Chamo atenção à isso não como lapso estilístico o que de certo não é, mas uma pista sobre o significado da obra.

ii- "Descrição topológica"

O que é chamado aqui de descrição topológica não tem nada a ver geografia, mas é uma classificação dos tipos de pessoas a partir da prevalência das partes que as compoem. Não é errada ou ilegitimo fazer isso, basicamente todo o filosofo ou literato o faz. Mas observemos o modo como nosso filósofo o faz. Há os homens do Buraco branco - legalidade metafísica, palavra anti corpo e que "vestiram o uniforme da identidade mundana e acabaram por se confundir com ele" e os do Buraco negro - crise permanente e já nasceram mortos. Os dois buracos são circunscritos por uma "linha do horizonte" e divididos por uma linha do acontecimento que está em movimento centrífugo e que mistura tudo.

Me pareceu que o que ele quis fazer é a velha distinção entre papéis sociais e liberdade individual. Há de fato aqueles que esquecem da vida e só interpretam papéis sociais. E há sempre o perigo de "ponha os pés no rio, ponha as mãos na água" para quem rejeita participar totalmente dos papéis sociais. De modo que é tudo misturado e os buracos são só "tipos extremos". O que causa estranheza é que ele coloca no mesmo saco um Platão e Medievalistas(filosofos brancos) e um cara que só sabe trabalhar. Mas, o Platão e os medievalistas foram os que abandonaram qualquer "uniforme de identidade mundana" e tem a filosofia como preparação para a morte. Esse tipo de incongruência também não é acidental mas isso depois veremos.

iii- "Capítulo 2: Equação Natal: Presença roubada."

No Capítulo 2 há um núcleo de significado que dá a chave interpretativa de todo o texto. Transcrevo-a aqui: "Se trata de um universo hipernomeado de sentido, hipersaturado de narrações. Escrevo para encontrar a primeira intensidade sem sentido do gesto inaugural. Escrevo para furar o piche do meu rosto e braços".

Grosso modo no começo ele se lamenta a falta de "arrebatamento"(se opõe ao componente de opacidade que é não se saber muito bem o que se faz. Só o sabendo posteriormente) e que ele só se lembra do logos. Então se pergunta qual causa do seu conhecimento filosófico que serve de base para suas ações? em suma, como foi que chegou nesse momento da vida?

E é aí que entra o buraco negro. Ele é tudo o que foi assimilado por ele fora de uma tradição. E por isso que um workaholic e Platão estão no mesmo saco. E assim ele chama o buraco branco de cascalho porque é o que se amontuou pela tradição.

iv- O caso do carangueijo

O caso do caranguejo é fundamental porque ele mostra o trauma do autor. Então ele lembra de que quando uma criança tem o thambos(espanto que dá origem ao conhecimento) ela divide esse momento com o pai e se ele não retorna ela é danificada para sempre(como sempre a culpa é dos pais). Mas, segundo ele mesmo diz, não tem nada de psicologia. Então só pode representar uma coisa: o desejo de criar uma cultura totalmente nova sozinho. Só isso justifica ele ter se achado danificado irremediavelmente, pois seus pais lhe imporam uma cultura totalmente "anatural". Até o caso é significativo, as primeiras sociedades também imitavam animais.

É claro que isso é uma imbecilidade, porém imbecilidade endêmica pois tem se repetido alarmantemente em exemplos como o de Nietzsche, Descartes, Newton etc. Ademais, fica claro também as consequências desse tipo de atitude que é fazer o recorte da realidade e excluir todo o resto(nihilismo para Nietzsche, tradição vazia para Descartes e Irracionalismo para Newton) que seria o cascalho, o piche e o cimento(ele não inventou o trabalho, as instituições culturais ou a filosofia e por isso é tudo cascalho).

v- Homens arquétípicos

Pessanha divide os homens em três arquétípicos que são 1- o super-homem(no vocabulário de Nietzsche e Robson Crusoé no meu)- inventava livremente seus próprios valores, altivamente pisoteando a “verdade”, o “bem”, a “humanidade” ou o que quer que tivesse o desplante de atravessar o seu caminho; 2- O habitante do mundo que aceitava a cultura sem questionar, reduzido à obediência rotineira e ao “espírito de rebanho” e; 3- Habitantes do Buraco negro que se questionam da cultura, como o pequeno deus de um microcosmo autônomo reinventando a roda.

vi- Conclusão

Agora, eu não preciso nem falar que isso é uma baboseira fora do comum. Como ele esperava aprender a andar, falar e pensar? pois, isso é o que se tira se levarmos ao extremo a tese. Ninguém é o Robson Crusoé. Há o modelo do Piaget da criança sozinha que consegue descobrir tudo e que há o mundo e a criança é falso e falhou como técnica educacional. Há o mundo, a criança e o professor que faz a ponte e representa a tradição. Ademais, o mundo é o mundo. Não importa quão distante se esteja do começo, a não ser que você seja Adão. Então todo mundo, exceto Deus, age no componente de opacidade. Qual o caminho certo já testado e percorrido? Se apreende a tradição e depois, só depois, se transcende a tradição. Agora vocês percebem porque ele teve que reexplicar conceitos tão antigos como idéia e dar nomes novos ao que já existe.

Mas falar é fácil para mim, já fazer... Explico. Quando uma cultura nasce, ela se desenvolve por meios próprios. Acontece que chega um ponto que tem tanta coisa que os indivíduos não conseguem mais apreender. Assim foi na europa medieval. tinha tanto livro, tanta coisa pra aprender que o pessoal desistia. Assim está ocorrendo em nossa cultura e é disso que ele reclama. Eu apostei que chegava até o final, ele, que não.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Imanetizar a transcendência

Esse texto é uma crítica ao texto de Delfim Santos "Sobre a ambiguidade na metafísica"

Quem é Delfim Santos: http://pt.wikipedia.org/wiki/Delfim_Santos

O texto: http://www.filosofia.org/aut/003/m49a0840.pdf

Prometi não mais escrever textos grandes quando estivesse no navio, é cansativo. Mas esse deve valer a pena porque, em muito, me parece ser um exemplo da imanetização da transcendência.

É bem verdade que concordo com a tese da ambíguidade da metafísica. Toda teoria dos princípios supremos de Platão e Aristóteles são mitos e Platão não julgava-se digno de escrever sobre ela é porque de fato, não é como um sistema lógico que o sujeito tem que admitir a veracidade. Ademais, essas doutrinas são muito semelhantes ao mito cosmogônico de Hesíodo e a teologia esquiliana. Então iria mais longe ao dizer que não se trata de uma ambiguidade(2 sentidos) mas algo de múltiplos sentidos e, para quem crê na total logicidade da filosofia Aristóteles diz que o filomito é de certo modo um filósofo.

Mas não é em vão que o autor usa a palavra ambíguo, como quem leu percebeu. Antes ele fala de um duplo movimento da metafísica. Aqui, minha linguagem ainda presa com os antigos bate com a dele que fala de duas correntes de pensamento moderno. Assim, me parece forçoso fazer uma crítica ao pensamento dessas duas correntes. Quem leu o post Filosofia X Metafísica há de compreender que estas tem dois objetos de estudo diferentes, portanto sendo dois gêneros de conhecimento diferentes. O objeto metafísico é o resultado de uma ascenção e descobrimento da alma e da experiência do "É!". Então o fica o ridículo do idealismo que pressupõe que qualquer um nasça com tais dotes. Na verdade eles(materialistas e idealistas) se perguntam como um homem comum reconhece algo e supõe que seja pela idéia. Mas isso não é verdade, eles só tem acesso a suas afecções e com isso criam opiniões(doxa). Mas as afecções tendem a mudar, a vir a ser, o que gera uma inadequação das opiniões e das sensações e por isso o realista sempre tem que apelar ao idealista como bem viu o autor do texto.

Outra confusão terrível aqui é entre realismo, real, e sensível. Realista é o sujeito que diz serem os sensíveis o Ser por excelência. Real vem do latim "res, ei" que quer dizer coisa, isto é, individualidade, mistura entre forma e matéria e, assim concretude. Mas será contra-histórico e, na verdade estúpido, julgar as idéias como unicamente forma, pois, por serem muitas e portanto pluras servem de matéria para o Uno. Por outro lado elas são compostas de forma e matéria, isto é, Uno e os contrários que elas analogam e, portanto, são unidades e coisas.

Logo, percebe-se a verdade de que "tudo que é pelo pensamento é", pois isso se refere ao mundo do "É!", a metafísica, de outro modo se negaria existencia as idéia que, como vimos é absurdo. Esse é o principal erro do autor, achar que só há existencia e individualidade nos sensíveis. Quando fala da polarização da metafísica em pensamento e existência ele não sabe o que esta falando, ele está imanetizando o transcendente. A metafísica é o discursso que articula o transcendente na inteligência. Assim, como falou Aristóteles, a inteligência não precisa de objeto físico externo. "O homem fala com palavras mas Deus fala com palavras e coisas" o filósofo vai descobrindo a Lei que rege o microcosmo da alma e vendo que "tal como é em cima é embaixo" e percebe porque "Deus criou o homem a sua imagem e semelhança" e que tudo que existe são "pensamentos de Deus".

Problema da forma e matéria

Meu objetivo aqui não é dar uma explanação sobre a metafísica platônica, pois seria descabido e nem tenho forças para isso. Aqui tentarei justificar a posição da ambíguidade entre matéria e sínolo em Aristóteles. É matéria complexa e posso cair em muitas contradições principalmente agora que estou sem meus livros(puta saudade do voegelin!). Esse é um campo de polêmica milenar e parece mesmo haver algo estranho, copio aqui o Angioni: "Não há consenso sobre os resultados da argumentação pela qual Aristóteles pretende resolver o problema[se forma ou subjacente é substância], e, na verdade, nem sequer há consenso de que é realmente esse problema que Aristóteles formula". Assim, para desconfundir o meio de campo, dividirei esse estudo em três tópicos: Teoria dos princípios platônica acompanhada de leitura do capítulo 7 livro I da física de Aristóteles e uma análise do argumento do terceiro homem Aristotélico.

i- Protologia Platônico-Aristotélica

Um ponto importante é que eu não vou falar sobre a teoria das idéias. Sim, é uma merda... mas, for the sake of the agument, deixo pruma próxima e o mesmo vale pros números idéais (embora só tenha compreendido uma parte deles). Então eu tô cortando MUITA coisa.

Depois de descobertas as idéias que representavam a unidade na multiplicidade e que englobavam varios seres houve o problema de que as idéias por sua vez eram muitas e que, portanto plurais. Logo, as idéias não eram o topo da metafísica platônica sendo necessários os princípios. Para Platão dois eram os princípios: o Uno supremo que é o princípio de determinação formal e a Díade indeterminada de Grande-e-pequeno, que é princípio de variabilidade indefinida. Uma coisa que temos SEMPRE QUE LEMBRAR é que os princípios NÃO SÃO algo que deram o primeiro movimento no universo e depois desapareceram, ou não acontecem mais. Eles são atemporais e como Deus na Bíblia é por eles que "nós vivemos, nos movemos e somos". Eles foram e são a causa de tudo e princípio de qualquer causalidade como veremos na parte de Aristóteles.

O Uno é o princípio limitador e limitante, a díade é "estrtural desigualdade" e engloba infinita grandeza e pequenez, sendo princípio da indeterminação. Os dois são igualmente originários, mas seria incorreto falar de dois princípios. Na verdade, é claro que um é forma e o outro é potência e por isso se exigem mutualmente e geram o Ser que é uma síntese de unidade e multiplicidade. Citando Reale: "Nada é algo se não é UM algo. Mas ele só pode participar da unidade porque ao mesmo tempo participa do princípio oposto da multiplicidade ilimitada e, por isso, é outro em relação a própira unidade. O Ser é, por isso unidade na multiplicidade".

Dito isso, vejamos como a coisa se dá na Física de Aristóteles. Começando a partir do livro I capitulo 6 do Física veremos a investigação sobre os princípios. Ele adimite no livro 5 que os contrários devem ser feitos princípios. No livro 6 há a divagação sobre o número de princípios, se seriam dois ou três. A questão fica inconclusa mas fica a necessidade de INCLUIR AOS CONTRÁRIOS UM SUBJACENTE. A questão só terá solução no livro 7. O dito subjacente àquilo que vêm a ser "mesmo que seja um em número é dois pela forma" enquanto o uno é um em forma. Fica claro, portanto, que tanto em Platão como Aristóteles há essa tríade. Para Platão a díade grande-e-pequeno seria para Aristóteles os contrários(em letra maiúscula), o Ser é o aristotélico subjacente(composto de forma e matéria) e O Uno seria a Forma. Mais uma vez tenho que lembrar que isto vale para todas as coisa que vem a ser e portanto princípio de TODA A CAUSALIDADE não importa quão pequena e atual.

Aqui entra a ambibuidade do subjacente e da matéria, pois às vezes significam o Ser e às vezes a Díade. Creio que quando se trata de mutações substanciais se use matéria como Díade e mutações de propriedades se use matéria como subjacente. Mas não tenho certeza...

ii- Argumento do "terceiro homem"

Um dos grandes argumentos Aristotélicos contra a teoria das idéias platônicas é o famoso argumento do "terceiro homem", isto é, considerando a idéia de homem e o homem concreto seria preciso algo que os intermediasse, o terceiro homem. Mas daí a necessidade de intermediar o homem-idéia com o terceiro homem e o terceiro homem com o concreto e assim surgiria uma corrente infinda de homens o que tornaria o conceito de homem initeligível.

Mas será mesmo assim? Examinemos os modos de significação dos conceitos, Eles podem ser:

- unívocos: aplicado a vários seres com mesma significação;
- equívocos: aplicado a vários seres com significação completamnente diferente;
- análogos: aplicado a coisas diversas com acepções nem identicas nem totalmente diferentes.

Ora, os conceitos não são totalmente diversos de seus respectivos concretos, nem são um só com eles. São portanto análogos. De fato, nenhuma realidade é totalmente diferente do mundo de nossa existência pelo fato de que em tudo há algo de Deus e, no entanto, as realidades metafísicas diferem dos fatos da experiência. A unicidade nos leva a um monismo, a equivocidade supõe um dualismo ou um pluralismo. Só a analogia pode assegurar pluralidade na unidade.

A parte, como ser, é análoga ao todo e, é necessário que haja comparação para que possa se empregar a analogia. A analogia é uma relação que se dá pelo o esquema do espírito e o do mundo real-físico, por meio de comparações entre uma idéia e um fato real ou entre idéias.

Fica assim desnecessária a suposição de uma "teoria do terceiro homem" e afirmada mais uma vez a validade da teoria das idéias platônicas.

Metafísica X Filosofia

No início das civilizações, o homem era um animal acuado. Hoje podemos contemplar a beleza e até o idílico em uma tempestade, mas no passado os fenomenos naturais causavam medo e terror. Contudo, homens apareceram que conseguiram superar esse medo e contemplar a natureza, eles criaram a civilização. As civilizações primevas foram o reflexo do cosmos.

Nessas civilizações a pergunta sobre a causa das mutações do cosmo estava presente, mas foi na Grécia que essa pergunta foi constituida um fim em si mesma. Outra novidade foi que o caráter mítico foi posto de lado (embora ele se apresente sempre). Estava constituida a filosofia. Cabe aqui fazer a observação de que os filosofos não eram tão diferentes dos sacerdotes de outras civilizações, eram uma espécie de escola mística.

Outro movimento, porém, se formou, paralelo a esse, na Grécia: a poesia lírica. Uma constante na estonteante variedade de poetas desse genero era a confrontação da verdade da pólis com uma verdade deles(virtude). Diferentemente dos filosofos e sacerdotes eles não escreviam sobre a natureza mas sobre algo mais próximo do homem comum, i.e., as coisas humanas, as virtudes. Cada um desses poetas descobria uma virtude e a comparavam com a da pólis sendo a verdade a virtude louvada e a mentira o costume(nomos) da pólis.

Mas se cada um proclama uma virtude e cada uma delas era "a verdade" qual virtude seria a verdadeira? Ficou claro que essas virtudes eram diversas faces do mesmo fenomeno: a transcendência. E aqui entra Parmênides, ele em suas observações não usava os sentidos nem queria saber da causa da mutação do cosmos. Seu objeto de estudo é a transcendência a qual, pela primeira vez, foi chamada de Ser.

No poema de Parmênides fica claro que se trata de uma escola mística em plena acepção. O transporte místico feito por cavalos, a deusa inominada, os três caminhos, as musas e a viagem da Noite para a Luz não podem ser encarados de como um recurso literário. Era de fato uma escola mística que culminava com a EXPERIÊNCIA do "É!". Muitos tradudores se enganam ao traduzir "algo é" e mesmo a expressão o "Ser É" parece errônea. É não tem sujeito porque não é nem uma idéia. É uma experiência mística.

Nasceu a metafísica com parmênides e se dividiam aí o que nós chamamos de filosofia. Filosofia dos naturalistas corresponde a física aristotélica e tem como objeto a mutação do cosmos e Metafísica de Parmênides tem como objeto uma experiencia mística. Os erros que emanam dessa distinção estão em todo o lugar principalmente quando parmênides diz que pensamento e ser são o mesmo. Ora, na metafísica e considerando o É! isso é verdade(idéia=imagem; então tudo que se pode criar uma imagem e pensar existe como idéia), de outro modo, considerando a filosofia imanetista isso é dizer que verdade=mentira e que tudo que se pensa existe de modo concreto. A imanetização da transcendência foi erro que ditou a filosofia dos eleáticos posteriores, Protágoras, Demócrito e a lista não caba mais...

Fica claramente distinguidas seis tipos aqui: 1- homem comum; 2-sacerdotes cosmológicos; 3-filósofos da physis; 4-poetas líricos; 5-Parmênides; 6- discípulos de Parmênides que imanetizaram o transcendente. Excluíremos os tipos 2(por não usarem o logos como base da investigação), 4(por serem partes desconexas do fenômeno metafísico) e 6(por não interessar na discussão). Sobre o homem comum pode-se dizer que os eventos cotidianos forjaram a linguagem comum e que seu mundo é o da sociedade humana. Os primeiros filósofos se apropriaram dessa linguagem e fizerm emergir teoreticamente e levaram a um nível metodológico. Com efeito, obtiveram algum resultado e a eles devemos irrupções de sabedoria como o "semelhante atrai semelhante" entre outras; contudo, o método para descobrir o princípio do movimento com base nos sentidos simplismente não se acoplava com a linguagem o que inelutavelmente levou a uma aporia. Platão chegou a dizer que esse método escureceu-lhes a alma e Aristóteles, embora mais brando, observou o mesmo fenômeno. Parmênides é claro alcançou melhor resultado porém ficou só na contemplação do "É!" e não conseguiu construir sobre ele um discurso muito bom de modo que sua descrição, embora arrebatadora, não conseguiu impedir o descarrilamento de seus discípulos gerando o tipo 6.

Uma ascenção à metafísica paralela a Parmenidiana se deu com Sócrates por meios pouco usuais. Filho de parteira, desde pequeno teve contato com a arte médica e mesmo homem se preocupava antes do começo de suas discussões com a saúde do interlocutor. Foi essa arte(medicina) que, por analogia, fez o "turning point" da metafísica. Houve aí a redução do macrocosmo do universo para o microcosmo do homem e daí para a alma. Sócrates agora era o médico da alma cuja regra era o "conhece-te a ti mesmo". O próprio Platão reconhece que "nunca escrevi nada, antes quem o fez foi Sócrates remoçado" e assim ele parte para sua "segunda navegação", ou seja, se quisermos conhecer o macrocosmo do universo teremos que conhecer o microcosmo da alma.

Tipo usual de critica ao Platão é a de que ele fosse dualista. Nada mais falso. Se se compreendeu o texto até aqui perceberá que são dois objetos de estudo e dois gêneros de conhecimento que de algum modo se conectam mas nem por isso devem ser confundidos gerando o erro da imanetização da transcendencia ou o da transcendização da imanencia. Outra é a do idealismo platônico, desde Parmênides demostramos que é uma espécie de via mística e de um ethos, de certo ponto todo humano tem acesso pois é uma possibilidade humana como qualquer outra, mas se defendeu o idealismo como se já se nascesse com essa via mística o que é algo ridículo, apeirokalia não tem conhecimento, só opinião.